top of page

A Espinha dorsal invisível da internet no Brasil: os cabos submarinos de internet na costa brasileira.

  • Foto do escritor: Antonio Santos
    Antonio Santos
  • 1 de nov.
  • 3 min de leitura
Cabos Submarinos de Internet
Cabos Submarinos de Internet

Se você abre um app no celular em Sergipe e consome dados que estão fisicamente armazenados em data centers na Virgínia, Lisboa ou Joanesburgo, é quase certo que o seu tráfego cruzou o Atlântico por fibras ópticas assentadas no leito do mar. Mais de 95% do tráfego internacional da internet depende dessa malha global de cabos submarinos de fibra óptica e o Brasil é um nó estratégico dessa rede — com hubs como Fortaleza (CE), Santos/Praia Grande (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Salvador (BA) recebendo e distribuindo essa conectividade de alta capacidade.


Como funciona um sistema de cabo submarino


Camada física. Um cabo submarino moderno é um “sandwich” de engenharia: fibras de vidro no núcleo (onde trafegam os pulsos de luz), blindagens de polietileno e armaduras de aço para resistir à tração/pressão, bainha metálica (geralmente cobre/alumínio) e, próximo à costa, camadas extras de aço para proteção contra âncoras e pesca de arrasto. Em zonas costeiras ele é enterrado a ~10 m de profundidade; em alto-mar, repousa no fundo, acompanhando a batimetria.

Anatomia do Cabo
Anatomia do Cabo

Amplificação e ótica. Ao longo da rota, repetidores/amplificadores ópticos (a cada ~50–100 km, conforme projeto) restauram o nível do sinal sem convertê-lo para elétrico. Nas estações terrestres (beach manholes/landing stations), o sinal é demultiplexado e entra em SDH/OTN e IP/MPLS. A enorme capacidade vem do DWDM: dezenas de comprimentos de onda independentes por par de fibras, cada um em dezenas ou centenas de Gb/s, totalizando hoje centenas de Tb/s por sistema. A vida útil típica é >25 anos.


Topologias e resiliência. Muitos sistemas são construídos em anéis auto-restauráveis entre países/continentes, permitindo “proteção 1:1/1:N” e desvios automáticos em milissegundos quando há falha física. Mesmo assim, cabos são vulneráveis a terremotos, deslizamentos submarinos, redes de pesca, âncoras e a atos de sabotagem — reparos exigem navios especializados e podem levar semanas.


Onde o Brasil “aponta” para o mundo

As atuais portas de entrada/saída de tráfego internacional via cabo submarino são:

  • Fortaleza (CE) super-hub no atlântico por sua posição geográfica (menor distância até EUA, Europa e África Ocidental) e pela concentração de landing stations;

  • Santos/Praia Grande (SP);

  • Rio de Janeiro (RJ);

  • Salvador (BA);


Os principais cabos com presença no Brasil

A lista abaixo reúne os cabos operacionais relevantes e seu papel no ecossistema. Capacidades e detalhes evoluem com atualizações de equipamentos e “re-lighting” de pares de fibra.


  • SAm-1 (Telxius) – Anel que circunda as Américas (25 000 km) conectando Brasil (Santos, Rio, Salvador, Fortaleza) a Caribe, EUA e costa pacífica sul-americana; capacidade final projetada em 1,92 Tb/s na sua geração original.

  • SAC – South American Crossing (Lumen/TI Sparkle) – Anel pan-americano (20 000 km) com pontos em Santos, Rio e Fortaleza; marco da virada dos anos 2000 (capacidade final de 1,28 Tb/s em sua configuração de época).

  • GlobeNet – Backbone multi-ponto (23 500 km) ligando RJ/Fortaleza a EUA, Bermudas, Venezuela e Colômbia; destaque para baixa latência (ex.: <101 ms NY↔RJ).

  • AMX-1 (América Móvil/Claro) – Ramificações em Fortaleza, Salvador e Rio até Caribe, México e EUA; investimento de grande porte, com até 30 Tb/s.

  • BRUSA (Telxius) – Fortaleza/Rio ↔ Porto Rico ↔ Virgínia (EUA); atingiu 160 Tb/s após upgrades.

  • Monet (Google/Algar/Angola Cables/Antel) – Fortaleza ↔ Santos ↔ Boca Raton (EUA); 6 pares e até 64 Tb/s, reforçando nuvem do Google na região.

  • Seabras-1 (Seaborn/Sparkle) – Praia Grande (SP) ↔ Nova Jersey (EUA); rota direta SP–NY, 6 pares/até 72 Tb/s, foco histórico em mercados financeiros.

  • EllaLink – Fortaleza ↔ Sines/Funchal/Praia (Europa/África); rota direta Brasil-Europa (sem passar pelos EUA), com até 72 Tb/s, elevando soberania e diversidade geopolítica.

  • SACS (Angola Cables) – Fortaleza ↔ Angola; abre vetor Brasil–África e encurta rotas EUA–África do Sul por via Brasil, reduzindo latência de 338 ms para ~163 ms em cenários exemplificados.

  • SAIL (Camtel/China Unicom) – Fortaleza ↔ Camarões, 4 pares/≈32 Tb/s; conecta-se a redes terrestres africanas.

  • Malbec (GlobeNet/Meta) – SP/RJ ↔ Las Toninas (ARG) com expansão planejada a Porto Alegre; até 108 Tb/s para a rota Brasil-Cone Sul.

  • Americas-II (consórcio) – Fortaleza ↔ Caribe/EUA; em operação desde 2000 (4 pares), importante como trilha legada e de restauração.

  • Tannat (Google/Antel) – Santos ↔ Uruguai/Argentina, 6 pares e até 90 Tb/s, reforçando Google Cloud no Cone Sul.

  • Junior (Google) – RJ ↔ Santos, “metropolitano marítimo” de 13 Tb/s para tráfego próprio do Google.


Adicionalmente existem outros sistemas costeiros/legados como o Brazilian Festoon (Embratel) interligando capitais litorâneas, úteis a redundância regional e “backhaul” dos grandes sistemas internacionais.


A “espinha dorsal invisível” da internet brasileira é marítima e conecta nosso ecossistema digital a múltiplos continentes por fibras ópticas de alta capacidade. Do ponto de vista técnico, DWDM, transponders coerentes e engenharia de anéis permitem escalar tráfego dezenas de terabits por segundo por par de fibra. Do ponto de vista estratégico, a diversidade de rotas (EUA, Europa, África), a proteção física dos landings e a cooperação Estado–indústria são essenciais para garantir latência, disponibilidade e soberania digital nos próximos 25 anos de modernização da malha.


Comentários


bottom of page